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JOSÉ ORTEGA Y GASSETT

Memórias & Retalhos dum Eco Inteligente e Não Replicante™

Marco Paulo Silva
Por: Marco Paulo Silva Fonte: Juntando as peças com intelecto, cognição e lucidez impoluta
02/05/2025 às 14h55
JOSÉ ORTEGA Y GASSETT

José Ortega Y Gasset nasceu em Madri, em 1883.

Estudou entre jesuítas, cujos métodos pedagógicos viria a criticar severamente.

Formou-se em Filosofia e Letras.

Entre suas principais obras estão A Rebelião das Massas, Espanha Invertebrada e O Que É a Filosofia?

Numa de suas máximas ele reverberava: “não é possível chegar a um pleno entendimento das coisas mundanas sem perceber e superar as próprias circunstâncias”.

Em sua doutrina e idiossincrasia social propunha uma organização política da sociedade via moldes aristocráticos advinda de uma avaliação cética das possibilidades e capacidades do homem comum / mediano.

Em reação às correntes filosóficas que afirmavam a supremacia da razão (racionalismo) e àquelas que buscavam a verdade absoluta dentro do mundo sensível (empirismo), o filósofo construiu um sistema baseado no que chamou de razão vital.

A expressão enfatiza a racionalidade em função da vida, isto é, algo que não pode ser separado das condições física, psicológica e social do indivíduo.

Assim como não bastam só as faculdades mentais, na sua concepção, os sentidos também se mostram insuficientes, porque limitados, para se chegar ao pleno conhecimento. Conhecer as coisas na plenitude, dizia, depende de uma espécie de descoberta que torne possível compreender os aspectos não acessíveis aos sentidos. Como cada ser humano é também uma circunstância específica, a realidade só pode ser apreendida de uma determinada perspectiva.

Para Ortega y Gasseta verdade não é relativa, mas a realidade, sim”.

Neste sentido acrescentava que “a verdade só é alcançável do ponto de vista de cada um”.

E esse é o sentido da mais famosa das máximas de Ortega y Gasset: “O homem é o homem e a sua circunstância. Se não a salvo, não me salvo a mim”.

Esse entendimento representa a compreensão orteguiana de que cada homem tem uma perspectiva única e sua vida deverá consistir em expressá-la.

Para ele, não é possível considerar o ser humano como sujeito ativo sem levar em conta, simultaneamente, tudo o que o circunda, a começar pelo próprio corpo e chegando até o contexto histórico em que se insere.

A Educação deveria ser então, de acordo com ele, um instrumento para que cada um pudesse conscientizar-se de sua circunstância, relacionar-se com ela, superá-la e superar-se.
O pensador espanhol criticava a formação dos professores porque ela estaria orientada para encaixar os alunos numa cultura rígida e previamente sistematizada. "O princípio mecanicista reprime a desordem magnífica e criadora que a criança traz como equipamento vital" - afirmava.


Noutro âmbito o asceta elucubrava: A possibilidade de criar a própria história, e não apenas de ter uma natureza determinada, é o que mantém o ser humano permanentemente voltado para o futuro. Nessa dinâmica ele constrói uma ética que nada tem a ver com preceitos absorvidos de fora mas de uma fidelidade a si mesmo”.

Segundo o filósofo, entretanto, apenas uma parte minoritária da humanidade faz uso dessa prerrogativa.
A Minoria é, pois, em sua opinião, um dos dois fatores necessários e basilares para a formação de toda uma sociedade.

O outro será a Massa constituída de pessoas medianas e com noções obscuras sobre a própria circunstância.

A emergência e a proliferação do "homem-massa" faziam parte de um fenômeno avassalador que o pensador detectava em sua época. E assim chegou à conclusão de que:

Para a sociedade rumar solidamente em direção à renovação intelectual seria preciso que uma aristocracia esclarecida definisse as diretrizes políticas de modo a evitar a desordem e a violência revolucionária que ocorre quando o homem-massa decide agir apenas por si mesmo. Em condições normais de funcionamento da sociedade caberia à elite minoritária o papel de exemplo e à massa a característica da docilidade, ambas bem articuladas para que um grupo estratificado decida os rumos da coletividade”.

A minoria de que fala o filósofo não seria uma classe superior economicamente, mas um grupo formado por pessoas que adquirissem a clarividência por meio da cultura e da virtude.

Por outro lado, o homem-massa não seria o mais pobre nem o que teria menos acesso à educação formal. Ele o identificava com o “especialista” (tão em voga e reinante hoje em dia em tudo o que é mídia de ilusão e emburrecimento), tão cheio de si em sua visão rígida e estreita do mundo.

Em suas palavras: “Assim, o homem-massa conhece até um(a) campo/área do conhecimento, mas nada do restante. Sabe pouco de toda a realidade, conhece apenas uma ínfima parte dela”.

Maioria e minoria referem-se, explica Ortega, aos talentos, habilidades e esforço. Que deverão ser, acima de tudo, vistos e tidos como conceitos morais.

Para ele, “o que tipifica uma minoria não é a posse de bens ou riquezas, mas a promoção da cultura, da educação e um modo de vida ético”.

O homem-massa, ou maioria, é alguém descomprometido com a excelência pessoal e moral. É alguém: “acrítico consigo mesmo e seguro de suas falsas qualidades, que tem a percepção de que a vida é fácil e que nada de trágico pode lhe acontecer. Esse homem não quer ter ou dar razão, apenas impor sua opinião. Igualmente não se dispõe a contribuir com a alta criação cultural. Enquanto o homem nobre obriga-se a si mesmo, o homem-massa contenta-se a ser mero receptor da herança cultural”.

E o problema de toda a sociedade, em sua opinião, consistia justamente “no afã das massas em dominar, recusando-se a serem guiadas. E com tal protagonismo toda a nação se desfaz”.

O resultado de uma espécie de ódio aos melhores pelas massas parecia-lhe ser a razão da decadência civilizacional – passado um século continua certeiro no seu achismo (grifo meu)…

Ele afirmava ainda que a ascensão social do homem-massa representa um fato social complicado, pois: “falta-lhe um programa de vida refletido e exequível, bem como preparo intelectual e cultural para assumir postos-chave das nações. Massas sempre existiram na História, mas nesses dias elas pretendem o que normalmente não buscavam antes, o protagonismo da vida social. Por ser um tipo comum de homem-médio, sem qualquer talento especial, o homem-massa opta, politicamente, por soluções autoritárias”.

A proposta do filósofo para combater a especialização superficial era a formação cultural ampla de modo a preparar o homem para estar à altura de seu tempo:

“Não entendo que a técnica seja algo ruim, pelo contrário, ela permite o homem viver bem, estar bem no mundo. A técnica é um esforço menor com a qual se evita um esforço maior. O problema não é a técnica, mas a forma como o homem-massa lida com ela, despreocupando-se de questões mais amplas ou assumindo um individualismo tecnocrático de um homem que só se preocupa consigo mesmo e com sua estreita visão de mundo”.

O filósofo elegeu a vida de cada homem como tema nuclear de suas teses. Assim, transitou de uma razão kantiana, em voga na Alemanha, nos dias em que lá esteve, para uma outra forma de pensar onde “a vida é tomada em sua realidade mais crua e dramática”.

O seu amadurecimento intelectual se deu com a superação do idealismo: “declaro a vida uma realidade absoluta”.

No fortalecimento dessa forma de pensar aprofundou as diferenças entre o modo do antigo grego pensar, ou realismo, e a forma moderna, idealista.

Ele pretendeu colocar a razão em seu verdadeiro lugar, ancorada na vitalidade, considerando-a apenas como uma das dimensões da vida.

Considerando a vida o desafio mais urgente, Ortega a descrevia como:o que somos e o que fazemos, o modo de ser mais radical, pois tudo começa com ela e a ela se reconduz. Viver é o que ninguém pode fazer por mim e isto é um fato”.

Era, portanto, necessário, em sua concepção, “recolocar a vida no seu lugar sem assumir o irracionalismo. Antes de pensar o que quer que seja, o homem encontra-se em situação. A realidade primeira, a verdade radical, não é a do pensamento, mas sim a do eu e do mundo, ou o eu e minha circunstância. E esse eu que tem uma circunstância é vivido na primeira pessoa”.

Isso significa “que a vida humana não é uma vida que se guia pelo instinto, mas por escolhas”.

Para Ortega: “é inquestionável que o homem vá construindo sua existência na série dialética de suas experiências. Há que desenvolver uma filosofia da vida do homem”.

Bradava, por fim: “que a racionalidade, a hermenêutica ou qualquer sintema de ideias que se preze jamais deverá sobrepor-se ou substituir a vivência pessoal e intransmissível”…

Eco

 

 

 

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Marco Paulo Silva
Marco Paulo Silva
Nascido, em 1975, e criado em Terras lusitanas, formei-me, academicamente, em Psicologia Clínica.
Na busca pelo binômio - independência financeira / vocação -, há mais de duas décadas que dedico minha vida profissional à investigação criminal e segurança pública.
A partir de 2020 enveredei numa saga literária cujas façanhas já deram azo a três diamantinas obras: COSMION, POMPA & CIRCUNSTÂNCIA e DZÁIT-GÁIST...
O futuro a Deus pertence...
Hoje, vivo em São Paulo, Brasil.
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