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CRISE NO SISTEMA ELÉTRICO

FRAGILIDADES EXPOSTAS E A FARSA DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA NO BRASIL

Maria Rosa M Pires
Por: Maria Rosa M Pires
01/05/2025 às 17h40
CRISE NO SISTEMA ELÉTRICO

O apagão que mergulhou a Península Ibérica no caos em 28 de abril, acendeu um alerta global sobre a vulnerabilidade de sistemas elétricos dependentes de fontes renováveis, como a solar, que representava 59% da matriz espanhola no momento do colapso. No Brasil, o governo Lula celebra a conexão das cidades de Parintins, Itacoatiara e Juruti, no Amazonas, ao Sistema Interligado Nacional (SIN), como um marco de “descarbonização”. Mas a realidade é menos reluzente. A dependência de térmicas a carvão, responsáveis por 12% da matriz energética segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), e a falta de investimentos em infraestrutura expõem o país ao risco de apagões, pois que sem planejamento e robustez, o Brasil flerta com o caos energético, abandonando os cidadãos à mercê de promessas vazias.

O apagão ibérico, que paralisou Espanha, Portugal e partes da França, revelou os limites de uma matriz energética heavily reliant (altamente dependente) em renováveis intermitentes. Dados da Redeia, operadora espanhola, mostram que a energia solar caiu de 18 gigawatts (GW) para 8 GW em cinco minutos, desencadeando um efeito cascata que colapsou a rede. A Espanha, com 43% de sua eletricidade vinda de fontes renováveis (solar e eólica), enfrentou dificuldades para estabilizar a frequência de 50 Hz, essencial para a rede, segundo a professora Hannah Christensen, da Universidade de Oxford. O primeiro-ministro Pedro Sánchez negou que o excesso de renováveis fosse a causa, mas a Redeia alertou dois meses antes sobre “desconexões severas” devido à integração acelerada de fontes intermitentes e ao fechamento de usinas a carvão. A recuperação dependeu de hidrelétricas e importações da França e Marrocos, expondo a fragilidade de uma “ilha energética” com baixa interconexão europeia.

 

No Brasil, o cenário não é menos preocupante. A conexão de Parintins, Itacoatiara e Juruti ao SIN, inaugurada em 2023 com investimento de R$ 1,76 bilhão, foi anunciada por Lula como parte do programa Energias da Amazônia, que promete substituir térmicas a diesel por fontes renováveis. O “Linhão de Tucuruí”, com 480 km de linhas e torres de 250 metros, beneficia 3 milhões de pessoas e reduz 1,5 milhão de toneladas de emissões de carbono, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME). A matriz brasileira ainda depende de térmicas a carvão (12% da geração, per ONS) e gás (14%), especialmente em períodos de crise hídrica, como a de 2024, quando reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste operaram a 35% da capacidade. O apagão de 15 de agosto de 2023, que atingiu 25 estados devido a falhas na integração de fontes solares no Ceará, é um lembrete: a intermitência renovável exige redes robustas, que o Brasil não tem.

 

A narrativa de “transição energética” do governo Lula, destacando metas de 50% de renováveis na matriz até 2030 (atualmente 48%, segundo o MME), silencia sobre a falta de investimentos em infraestrutura. O ONS relata que apenas 60% das linhas de transmissão previstas no Plano Decenal de Energia 2031 estão em construção, com atrasos devido à burocracia e à resistência ambiental. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o setor elétrico precisa de R$ 400 bilhões até 2030 para modernizar redes e integrar renováveis, mas o orçamento de 2025 do MME aloca apenas R$ 18 bilhões, com 40% destinado a programas sociais como o Luz para Todos. A dependência de térmicas poluentes, que custam R$ 1.500/MWh contra R$ 200/MWh das hidrelétricas, encarece a conta de luz em 7,2% em 2025, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A hipocrisia do governo, que promove a “descarbonização”, ignora gargalos estruturais ao falar em energia limpa sem dizer que o Brasil depende de carvão e reza por chuva”. A crise hídrica de 2024, com o pior índice de chuvas em 90 anos no Sudeste, forçou o acionamento de 80% das térmicas disponíveis, segundo o ONS. A diversificação da matriz, com eólica (11%) e solar (5%), é insuficiente sem armazenamento em larga escala. O leilão de baterias, previsto para 2026, está atrasado, e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) alerta que a falta de sistemas inteligentes pode levar a cortes de energia em 2027. O Instituto Paraná Pesquisas (março de 2025) revela que 59% dos brasileiros temem apagões.

O cenário é de traição aos valores de responsabilidade e transparência. O governo gastar bilhões em publicidade para vender a “Energias da Amazônia”, ignora famílias que pagam contas de luz inflacionadas e indústrias que enfrentam risco de racionamento. A conexão de cidades amazônicas ao SIN é um avanço, mas não resolve a dependência de fontes poluentes nem a fragilidade da rede. A “transição energética” de Lula é uma fachada que esconde a negligência com a infraestrutura elétrica. Sem investimentos urgentes em linhas de transmissão, baterias e gestão de renováveis, o Brasil caminha para o mesmo caos ibérico, com os cidadãos como vítimas de uma distopia energética.

 

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