Quinta, 15 de Maio de 2025
15°C 23°C
São Paulo, SP

O Erro de Michelle Bolsonaro

Não é medinho, não.

Sergio Junior
Por: Sergio Junior
23/04/2025 às 19h25 Atualizada em 23/04/2025 às 20h23
O Erro de Michelle Bolsonaro

O Erro de cálculo de Michelle Bolsonaro: Era bem pior do que imaginávamos

 

No dia 18 de janeiro de 2025, antes de embarcar para os EUA(para posse de Donald Trump), Michelle Bolsonaro talvez tenha errado no seu modo de interpretar a impressão que seu marido causa a Suprema Corte. Na ocasião, Michelle respondeu aos jornalistas a respeito do impedimento (o STF impediu) de Jair Bolsonaro de viajar com ela para o evento:

“Meu marido está sendo perseguido, mas assim como aqueles que Deus envia serão perseguidos. A gente sabe disso. Espero que Deus tenha misericórdia da nossa nação e do meu marido. Assim como o grande líder, não seria diferente, né? Foi, vamos dizer, o maior líder da direita que elegeu “inelegível”, mas que elegeu o maior número de vereadores e prefeitos, e não seria diferente. É um certo "medinho" que eles têm do meu marido”

O medo é um dos agentes que mais revelam a fragilidade humana e, muitas vezes, parece ser uma demonstração de poder. É confuso, mas é a verdade. Ao mesmo tempo que pode ser interpretado como crueldade, demonstração de força, ou de "perseguição" como sugeriu Michelle, é também uma demonstração de medo. E Michelle erra quando diz "medinho". O medo que algumas pessoas têm do poder do Bolsonaro é enorme e exagerado.

Isso não é novidade, mas é intrigante. Jair Bolsonaro possui uma capacidade singular e, de certa forma, indizível. Refiro-me à sua habilidade de fazer as pessoas revelarem pensamentos, intenções e ideias que guardam nos recantos mais sombrios de suas mentes.

A figura de Jair Bolsonaro não se destaca apenas pela empatia, pelo entusiasmo em unificar o país ou pelo ímpeto que mobilizou milhões de brasileiros. Bolsonaro tem a ousadia de ser um homem livre em sua expressão, com um poder de penetração único no tecido social brasileiro. Quando falo de "sistema", refiro-me às diversas camadas da sociedade, alcançando até os estratos mais remotos.

Essa capacidade provoca reações viscerais. Os antigos detentores do poder tremem diante desse potencial. Por quê? Porque ele não se reveste de sofisticação. A conexão popular de Bolsonaro dispensa meandros intelectuais. Sua comunicação, muitas vezes desprovida de sintaxe refinada, é marcada por vícios linguísticos e piadas de humor simples. Combater Bolsonaro é difícil porque ele encarna a essência da miscigenação brasileira. Logo, combatê-lo é combater o povo.

Ele construiu uma linguagem que, ao mesmo tempo, incomoda e atrai, refletindo a desconfiança indígena, a alegria africana e a produtividade europeia que caracterizam nossa cultura. Assim, Bolsonaro desestabiliza pessoas e instituições, especialmente o sistema judiciário brasileiro, que hoje exibe um desequilíbrio evidente. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sentem-se compelidos a declarar publicamente que "venceram" o movimento criado por Bolsonaro.

Você não precisa ser fã de Bolsonaro, mas já deve ter percebido que o que estão fazendo com ele, ultrapassa qualquer limite. A verdade é que depois de 2022, quando perdeu a eleição, as instituições e a imprensa, inclusive o atual presidente, deveriam ter esquecido de Bolsonaro e focado no Brasil. Mas não, foi exatamente o contrário disso que aconteceu. Hoje, mais uma vez, para esconder o escândalo do INSS, Jair Bolsonaro virou "cortina de fumaça". É sempre assim. A cada momento em que uma pesquisa demonstra que Bolsonaro ganharia a eleição se fosse hoje, ou quando há um grande escândalo do governo, inventam uma notícia para desviar o foco. 

Isso não pode ser ignorado. O presidente da mais alta corte do país, obrigado a se pronunciar publicamente sobre o combate ao bolsonarismo, viola a proibição de atividade político-partidária por parte de ministros do STF. Bolsonaro provoca inquietação, insegurança psicológica e até reações defensivas na cúpula do Judiciário. Indiretamente, ele trouxe a Corte para a arena política. Um dos pilares da República se sente ameaçado por um homem de 70 anos, com a saúde fragilizada por cirurgias, simplesmente porque ele consegue articular ideias, dialogar com todas as esferas da sociedade e influenciar a política nacional.

Esse homem, um ex-presidente idoso e simples, é alvo de intimações judiciais (numa UTI) em um momento de vulnerabilidade física, numa ação que revela uma falta de humanidade. Independentemente de opiniões sobre Bolsonaro, isso é um escândalo. É a exposição da maldade que opera nos bastidores, da covardia de indivíduos que, apesar de seus diplomas, agem com desonestidade. Sim, é tudo isso. Mas esses comportamentos refletem medo. Mesmo que neguem, estão com medo de Bolsonaro.

Como julgar o criminoso que decapita um rival numa comunidade, o agressor que viola uma jovem ou o ladrão que mata um pai de família por um celular, se nas mais altas instâncias do Judiciário encontramos exemplos de desrespeito ético? Isso ecoa nas canções de Martinho da Vila, que ironizam o "ladrão de colarinho branco", ou nas letras de Renato Russo, que questionam "que país é esse?". Elis Regina já cantava que vivemos como nossos pais, e os ecos da ditadura militar, com suas injustiças e ilegalidades, parecem se repetir nos tribunais de hoje.

É urgente uma transformação cultural no Brasil, começando pela imprensa. Não é aceitável que se normalize a proibição de celulares de advogados e jornalistas num julgamento, um ataque direto à liberdade de imprensa. A mídia, na maioria, silencia ou aceita. 

Eis que surge uma questão:

Será que o problema do Brasil era mesmo a suposta linguagem desajeitada de Bolsonaro, tão criticada por sua falta de refinamento, comparada ao vocabulário polido de Michel Temer? 
Ou o temor está realmente no que ele representa: a democracia genuína, com o povo no centro do poder, pela primeira vez na história?

Essa é uma questão que os brasileiros devem ponderar: fomos condicionados a aceitar enganos, a rir da própria desgraça, a normalizar abusos. Contudo, é hora de esquecer as divergências e observar o que está de fato acontecendo.

Estariam as elites tentando recolocar a massa despertada por Bolsonaro em seu antigo lugar de insignificância? 

Que homem é esse que, aos 70 anos, com a saúde comprometida numa UTI hospitalar e inelegível, sem cargo público, ainda abala as estruturas da República? 
Que poder é esse?

Sérgio Júnior

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Sérgio Junior
Sérgio Junior
Sérgio Júnior é um escritor e pensador brasileiro, graduado em artes da teologia, membro n°23 da Academia Internacional de Literatura Brasileira de NY (AILB).
Um romancista ficcional, analista de cenários sociais, poeta e filósofo.
Em 2021 e 2022, disputou os prêmios de destaque literário pela Focus Brasil na AILB, idealizado por Nereide Lima e na premiação "Melhor do Brasil na Europa ", pela revista "High Profile Magazine" na Inglaterra, por causa do sucesso do livro "Eu no seu funeral" lançado pela CRV editora no Paraná.

Recentemente, Sérgio Júnior tem sido notícia em vários portais na internet , por seu livro " O SEGREDO DOS NEGROS VENCEDORES " lançado em 2023.

Site do autor na Amazon.

https://www.amazon.com/stores/Sergio-Junior/author/B0927LMMFY?ref=ap_rdr&store_ref=ap_rdr&isDramIntegrated=true&shoppingPortalEnabled=true

Envie uma mensagem para Sergio Junior no WhatsApp. https://wa.me/message/QYDPF3DM3CTXA1
Ver notícias
Publicidade
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,68 +0,02%
Euro
R$ 6,36 +0,05%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 626,125,25 +0,90%
Ibovespa
139,334,38 pts 0.66%
Publicidade