A mortificação da comunicação foi uma das estratégias bem sucedidas da esquerda em sua guerra cultural para eliminar qualquer ponto de vista divergente, bem como o silenciamento de vozes que representavam qualquer risco para seu projeto hegemônico. Foram com tanta sede ao pote, sem perceber que essa estratégia significaria também a morte do jornalismo.
Minha despedida oficial do jornalismo de redação foi em março de 1987, quando “saí” dos empregos de então para ser assessor técnico da Constituinte em Brasília, a convite do então senador Dirceu Carneiro, na época no PMDB-SC. Mas já era perceptível a destruição do ambiente plural, com a chegada de esquerdistas oriundos das faculdades e que não escondiam o seu ativismo político – fato que acabou encorajando os antigos comunas que se escondiam por detrás de roupagens de respeito às ideias divergentes em um grupo de esquerdistas que buscavam apenas e tão somente a hegemonia. Independente da idade.
Ainda tentei voltar ao jornalismo diário em Brasília, convidado que fui por um diretor de redação que ainda tinha na cabeça a ideia de que a pluralidade era importante. Durei uma tarde, porque o ambiente parecia mais um daqueles cenários de redação de panfletos esquerdistas no fim dos anos 70 e começo dos anos 80. Em poucos minutos percebi que ali só havia espaço para quem pensasse como eles e comungasse os mesmos ideais de ação política deles.
Teve, a bem da verdade, uma última visita a um jornal e precisando eu conversar com um conhecido, perguntei se poderíamos tomar um cafezinho no “bar do jornal” uma instituição mítica que descobri ali que em seu lugar havia uma lanchonete administrada por uma rede.
Não sou saudosista, mas apenas quero mostrar para quem acompanha esta escrita como foi que aconteceu o fim do jornalismo e a transformação das redações e dos ambientes jornalísticos em apenas e tão somente aparelhos políticos a serviço de uma causa. E digo mais: a qualidade humana dos jornalistas de hoje é ainda pior e mais degradante do que o produto final de suas mentes moldadas por cursos de pós e mestrado e, depois, treinadas em manuais de redação. Se cada um dos jornalistas que atuam na chamada media-mainstream pudesse efetivamente escrever aquilo que vai em suas mentes doentias, o mínimo que teríamos seriam reportagens apontando a urgência de matar adversários fascistas, sob o argumento de defenderem a democracia e a liberdade.
A questão, no entanto, tem uma segunda e necessária vertente: a dependência que muitos que se dizem conservadores tem deste tipo de informação. Costumo dizer que os meios de comunicação tornaram os brasileiros adictos de narrativas e que tem medo da liberdade – ao ponto de eu próprio ser confrontado muitas vezes por argumentos tipo: mas quem é você, que nunca trabalhou na Globo, para dizer isso? ou, ainda, o mantra: eu não vi essa matéria na Globo!
Por isso reitero uma percepção muito clara: o jornalismo plural e que admite a convivência do contraditório, ele está definitivamente morto. Essa velha mídia não tem como ser reinventada, razão pela qual os veículos e os profissionais que neles atuam são material tóxico e apodrecido que não tem como reciclar.
Qual o caminho: romper o ciclo da dependência emocional pelas narrativas e empreender a difícil jornada pelo conhecimento – o que se dará única e exclusivamente pela leitura dos clássicos e a ousadia de romper com o comodismo.