O Brasil aguarda com expectativa uma resposta da China até julho de 2025 sobre a ferrovia bioceânica, um megaprojeto que promete ligar o Atlântico ao Pacífico, conectando Brasil, Peru e Bolívia.
O Projeto
Lula, que assumiu a presidência do BRICS em 2025, colocou a ferrovia como prioridade na cúpula do bloco, marcada para julho em Brasília, segundo o Itamaraty. Em sua recente viagem à China, entre 11 e 14 de maio, Lula defendeu o projeto como “um marco para o Sul Global”, destacando a redução de custos logísticos em um discurso no Fórum Empresarial Brasil-China, conforme a Secretaria de Comunicação Social da Presidência. Lula busca consolidar a parceria com Pequim, maior comprador de commodities brasileiras, mas enfrenta o desafio de negociar sem ceder soberania.
Orçada em US$ 10 bilhões (cerca de R$ 57 bilhões ao câmbio de 15/5/2025), a ferrovia terá 3.800 km, partindo de Porto Murtinho (MS), passando pela Bolívia e chegando ao porto de Ilo, no Peru, segundo o Ministério da Infraestrutura. A obra, planejada desde 2015, prevê reduzir em 20% os custos logísticos para exportações de grãos, minérios e carne ao mercado asiático, que representou 31% das exportações brasileiras (US$ 104 bilhões) em 2024, conforme o Ministério da Economia. O trajeto cortaria em 15 dias o tempo de transporte, hoje dependente do Canal do Panamá ou do Cabo da Boa Esperança.
Estrutura do Projeto
A ferrovia bioceânica é uma peça-chave da Iniciativa Cinturão e Rota da China, que já investiu US$ 1 trilhão em infraestrutura global, segundo o Banco Mundial. O Brasil, que exportou US$ 89,4 bilhões para a China em 2024 (soja, minério de ferro e carne), vê na obra uma chance de diversificar rotas e competir com os EUA, que dominam o comércio via Panamá. O Itamaraty negocia um consórcio liderado pela estatal chinesa CRCC, com participação de empresas brasileiras como a Vale e peruanas como a Graña y Montero, mas Pequim exige garantias de retorno, como participação nos lucros portuários e isenções fiscais.
O traçado enfrenta desafios técnicos e ambientais. A travessia dos Andes exige túneis de 20 km, e a Amazônia boliviana levanta alertas de desmatamento, com 12 mil hectares em risco, segundo o Ministério do Meio Ambiente da Bolívia. O financiamento seria dividido: 50% pela China via Banco de Desenvolvimento da Ásia, 30% por Brasil e Peru, e **20% por investidores privados, incluindo o BNDES, que reservou R$ 5 bilhões, conforme o Ministério da Economia.
Impactos Econômicos e Geopolíticos
A ferrovia pode gerar 50 mil empregos diretos durante a construção (2026-2032) e aumentar o PIB regional em 2%, segundo estudo da FGV encomendado pelo Ministério da Infraestrutura. Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, seria o principal beneficiado, com redução de US$ 30 por tonelada exportada. O porto de Ilo, no Peru, ganharia capacidade para 20 milhões de toneladas anuais, desafiando portos chilenos como Antofagasta, conforme a Autoridade Portuária Peruana.
No entanto, a dependência da China preocupa. Pequim já financia 60% da infraestrutura boliviana e controla portos estratégicos na América Latina, como Chancay, no Peru. O Brasil, que deve R$ 150 bilhões em empréstimos chineses, segundo o Tesouro Nacional, precisa evitar que a ferrovia se torne uma “estrada de mão única”. A cúpula do BRICS, com Rússia, Índia e África do Sul como mediadores, será crucial para equilibrar interesses.
Além de barreiras ambientais, a obra enfrenta resistência de comunidades indígenas na Bolívia, que temem perder terras, e divergências entre Lima e La Paz sobre royalties. O Brasil, com 40% do custo logístico do agronegócio vindo de transporte, segundo a CNA, precisa da ferrovia para competir globalmente, mas deve negociar com olhos abertos. A China, que importou 70% da soja brasileira em 2024, pode usar a obra para pressionar preços.
Existe entusiasmo com o potencial econômico, mas receio de uma “colonização chinesa”. A ferrovia bioceânica é uma oportunidade histórica, mas o Brasil deve proteger sua soberania. Lula, no comando do BRICS, tem a chance de marcar o futuro do Sul Global — ou de repetir erros de dependência. Aguardemos os resultados ...