A América Latina, até pouco tempo dominada por narrativas de esquerda, está testemunhando um avanço silencioso, porém vigoroso, da direita conservadora, com o Brasil emergindo como um polo de resistência mesmo após a derrota de Jair Bolsonaro em 2022. Analistas descrevem a região como uma “fortaleza” para movimentos que defendem valores como liberdade, soberania nacional e tradições cristãs. Eventos como o CPAC Brasil 2024, realizado em Balneário Camboriú (SC), que reuniu líderes como o presidente argentino Javier Milei e o ex-presidente Bolsonaro, simbolizam esse fortalecimento. Contudo, a grande mídia, focada em vitórias da esquerda, como a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, omite o crescimento de movimentos conservadores, minimizando sua relevância e silenciando um debate essencial sobre o futuro político da região.
O CPAC Brasil 2024, organizado pelo Instituto Conservador Liberal (ICL) e liderado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foi um marco para a direita latino-americana. Realizado em 6 e 7 de julho, o evento atraiu cerca de 3.000 participantes e contou com figuras como Milei, o chileno José Antonio Kast, líder do Partido Republicano, e Gustavo Villatoro, ministro da Justiça de El Salvador, aliado de Nayib Bukele. Bolsonaro abriu o evento afirmando que “a direita, que está unida, sairá ainda mais forte”, enquanto Milei, em discurso no domingo, criticou “governos socialistas” e defendeu Bolsonaro como vítima de “perseguição judicial”. A presença de governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Jorginho Mello (PL-SC), além de deputados bolsonaristas como Nikolas Ferreira (PL-MG) e Caroline de Toni (PL-SC), reforçou a articulação de uma rede conservadora no Brasil, com foco nas eleições municipais de 2024, já passada, e na presidencial de 2026.
A força da direita não se limita ao Brasil. Na Argentina, Milei, eleito em 2023, implementa reformas econômicas liberais que, apesar de polêmicas, têm inspirado conservadores regionais. Em El Salvador, Bukele mantém índices de aprovação acima de 80%, segundo pesquisas da CID Gallup de 2024, devido à sua política de segurança pública baseada em prisões em massa. José Antonio Kast, embora derrotado por Gabriel Boric no Chile em 2021, continua a mobilizar a direita, com o Partido Republicano ganhando cadeiras no Congresso chileno (14% das vagas em 2024, segundo o Servicio Electoral de Chile). Esses líderes, que compartilham laços com o Partido Republicano dos EUA e figuras como Donald Trump, participaram de eventos como o CPAC nos Estados Unidos e na Argentina, consolidando uma aliança transnacional. A presença de Milei e Bukele no CPAC americano de 2024, ao lado de Eduardo Bolsonaro, evidencia o “apelo global” de um conservadorismo populista, marcado por lideranças carismáticas e discursos contra a esquerda.
No Brasil, o fortalecimento da direita é visível na esfera política e cultural. O Partido Liberal (PL), principal legenda bolsonarista, elegeu 99 deputados federais em 2022, a maior bancada da Câmara, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e ampliou sua presença nas eleições municipais de 2024, conquistando prefeituras estratégicas, como São Paulo, com Ricardo Nunes (MDB), apoiado pelo PL. Movimentos como o CPAC Brasil, que cresceu desde sua estreia em 2019, e manifestações como a de 6 de abril de 2025 na Avenida Paulista, que reuniu cerca de 15 mil pessoas, mostram que o bolsonarismo mantém uma base fiel. Um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas, de março de 2025, indica que 62% dos brasileiros se identificam com valores conservadores, como a defesa da família e da liberdade de expressão, um dado que a grande mídia raramente destaca.
A omissão da imprensa mainstream, é um ponto de tensão para a base conservadora. Enquanto a vitória de Lula em 2022 foi amplamente celebrada como um “retorno da esquerda”, o crescimento da direita é tratado como marginal ou associado a “extremismo”. A cobertura do CPAC Brasil 2024, por exemplo, foi limitada a notas protocolares em veículos como o UOL, que classificou o evento como uma “cúpula de extrema-direita”, sem explorar sua relevância para o debate político. Já a Revista Oeste criticou essa seletividade, apontando que a mídia dedica amplo espaço a eventos como o Foro de São Paulo, que reúne partidos de esquerda, mas ignora a articulação conservadora. A ausência de Milei na Cúpula do Mercosul de 2024, para priorizar o CPAC, foi noticiada como uma “quebra de protocolo” pelo G1, mas sem menção ao impacto do evento na consolidação da direita.
A ascensão da direita também enfrenta resistências. O STF, sob a liderança de ministros como Alexandre de Moraes, intensificou investigações contra figuras conservadoras, como o indiciamento de Bolsonaro no caso das joias sauditas em 2024, que pode levar a até 32 anos de prisão. A Operação Outside, que atingiu aliados de Hugo Motta (Republicanos-PB), foi vista como parte de um esforço para deslegitimar a oposição. Essas ações, para a base conservadora, reforçam a narrativa de “perseguição judicial” defendida por Milei no CPAC. Além disso, a esquerda latino-americana, representada por líderes como Lula e Boric, mantém influência em organismos regionais como o Mercosul, o que dificulta a agenda conservadora em âmbitos multilaterais.
Porém, é inegável que a direita conservadora está remodelando o cenário político da América Latina, com o Brasil como epicentro de uma resistência que não se curvou após 2022. Eventos como o CPAC Brasil 2024 e a emergência de líderes como Milei e Bukele mostram que o conservadorismo não é um fenômeno passageiro, mas uma força com raízes profundas. A grande mídia, ao ignorar esse movimento, trai seu compromisso com o pluralismo e a verdade, privando a sociedade de um debate honesto sobre o futuro. Cabe aos brasileiros, guiados por valores de liberdade, exigir que suas vozes sejam ouvidas, antes que a narrativa enviesada prevaleça.