Imagine que você produz algo — café, carne, soja — e, de repente, outro país decide cobrar uma taxa extra para deixar seu produto entrar no mercado deles. É mais ou menos o que está acontecendo com as exportações brasileiras desde que Donald Trump, presidente dos EUA, apertou o cerco com suas políticas comerciais. Em resposta, o Congresso Nacional aprovou, nesta semana, um projeto que dá ao Brasil o direito de retaliar essas tarifas. Mas o que isso quer dizer na prática, para quem não vive o dia a dia de Brasília?
A ideia é simples: se alguém dificulta a vida dos produtos brasileiros lá fora, o governo agora tem uma lei na manga para devolver na mesma moeda. Batizado de Lei de Reciprocidade, o texto permite ao Brasil aumentar taxas sobre importações ou tomar outras medidas contra países que nos prejudiquem. Tudo isso começou a ganhar forma por causa das tarifas americanas, que em 2025 subiram para até 10% sobre tudo que o Brasil manda para lá — e mais em alguns casos, como aço e alumínio. Trump diz que é para “equilibrar” o comércio, mas aqui a história é outra.
No Congresso, a discussão pegou fogo. De um lado, os petistas, liderados pelo pessoal do PT e pelo presidente Lula, bateram na tecla da soberania. “Ninguém vai pisar no nosso calo sem resposta”, parece ser o recado. Eles veem a lei como um escudo para proteger a economia brasileira, que depende muito das exportações — só em 2024, os EUA compraram mais de US$ 80 bilhões em produtos nossos, segundo o Ministério do Desenvolvimento.
Do outro lado, políticos da ala bolsonarista, ligados ao PL e ao ex-presidente Bolsonaro, se dividiram. Alguns acham que apoiar Trump é o caminho, já que ele sempre foi um ídolo para parte dessa turma. Outros, porém, olharam para os números — como os US$ 13,6 bilhões que São Paulo exportou para os EUA no ano passado — e decidiram votar a favor da lei, mesmo contrariando o líder da direita brasileira.
O curioso é que, no fim, o projeto passou quase por unanimidade. Senadores e deputados, de esquerda à direita, entenderam que, diante de um desafio externo, o Brasil precisava de uma carta na manga. Quem liderou a articulação? Não dá para apontar um nome só — o texto nasceu de consultas com o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Indústria e Comércio e até o setor privado. No Senado, nomes como Tereza Cristina (PP-MS) e Renan Calheiros (MDB-AL) defenderam a proposta, enquanto na Câmara ela voou rápido, aprovada logo após Trump anunciar seu “tarifaço”.
E agora?
Para o cidadão comum, o impacto não aparece na próxima conta de luz, mas pode chegar no preço do frango ou da gasolina, se o vaivém comercial esquentar. O governo Lula diz que quer diálogo com os EUA — afinal, eles têm um superávit de US$ 7 bilhões só em bens conosco. Mas, se a conversa não resolver, o Brasil já tem a lei para jogar duro. Resta saber se isso vai ser um grito de independência ou só mais um round numa briga que ninguém sabe onde termina.