O mundo acompanha com apreensão dois conflitos que escalaram nas últimas horas.
No Paquistão, um sequestro em massa por militantes separatistas do Exército de Libertação do Baluchistão (BLA) mantém mais de 200 reféns em um trem, enquanto negociações com as forças de segurança seguem em impasse, segundo o G1 Mundo. Na Ucrânia, uma proposta de cessar-fogo de 30 dias, apresentada por Kiev, permanece sem resposta de Moscou, com ceticismo dominando as análises, conforme a Reuters. Ambos os casos expõem as fragilidades da segurança global em um momento de tensões crescentes.
Paquistão: Sequestro no Baluchistão Paralisa o País
O drama no Paquistão começou na manhã de terça-feira, 11 de março, quando cerca de 20 militantes fortemente armados do BLA invadiram um trem de passageiros na província do Baluchistão, no sudoeste do país.
O ataque ocorreu perto da cidade de Quetta, capital regional, em uma área marcada por décadas de insurgência separatista.
O trem, que transportava 237 pessoas entre trabalhadores, estudantes e famílias, seguia para Karachi, maior centro econômico paquistanês. Os sequestradores, equipados com fuzis AK-47, granadas e coletes explosivos, renderam os passageiros e mataram dois seguranças nos primeiros minutos, segundo testemunhas citadas pela Al Jazeera.
O BLA, que busca a independência do Baluchistão alegando exploração de recursos naturais como gás e minerais pelo governo central, assumiu a autoria em comunicado. "Esta é uma mensagem ao Estado paquistanês: parem de nos tratar como colônia ou enfrentem as consequências", declarou o grupo, exigindo a libertação de 15 líderes presos e o fim das operações militares na região. O Baluchistão, apesar de rico em recursos, é a província mais pobre do Paquistão, com índices de desenvolvimento humano inferiores à média nacional, o que alimenta o ressentimento local.
As forças de segurança cercaram o trem, estacionado em uma área remota a 40 quilômetros de Quetta, mas evitam uma intervenção direta devido ao risco aos reféns.
O Exército paquistanês mobilizou drones e helicópteros para monitoramento, enquanto negociadores tentam contato via rádio com os militantes.
Até o momento, cinco reféns foram libertados — todos idosos ou doentes —, mas a situação permanece tensa. "Estamos lidando com homens dispostos a morrer. Qualquer erro pode ser fatal", disse o general Asim Munir, chefe das Forças Armadas, em pronunciamento.
A BBC relata que o BLA já realizou ataques similares, como o sequestro de um ônibus em 2022, que terminou com 12 mortos após uma tentativa frustrada de resgate.
O governo do primeiro-ministro Shehbaz Sharif enfrenta pressão interna para resolver a crise sem ceder às demandas, enquanto a população local critica a repressão militar que, segundo o Pakistan Today, matou 87 civis em operações antiterrorismo só em 2024.
A China, que investe bilhões no Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC) na região, também pressiona por segurança, já que dois engenheiros chineses estão entre os reféns, elevando o conflito a um patamar internacional.
Ucrânia: Trégua de 30 Dias em Suspenso
Na Europa Oriental, a guerra entre Ucrânia e Rússia, iniciada em fevereiro de 2022, segue sem resolução clara.
Na quarta-feira, 12 de março, o governo ucraniano propôs um cessar-fogo de 30 dias, o primeiro desde o fracassado acordo de Minsk III em 2023. A iniciativa, anunciada pelo presidente Volodymyr Zelensky em Kiev, visa "salvar vidas e abrir espaço para negociações sérias", com a condição de que a Rússia retire suas tropas das regiões ocupadas de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson — cerca de 18% do território ucraniano. A proposta inclui troca de prisioneiros e garantias de corredores humanitários, mas Moscou ainda não respondeu oficialmente.
A Reuters aponta que a oferta reflete o desgaste ucraniano após três anos de combates. Em 2024, a Rússia consolidou ganhos no leste, capturando a cidade estratégica de Avdiivka em dezembro, enquanto a Ucrânia enfrenta escassez de munições e atrasos no apoio militar ocidental.
O Pentágono estima que o conflito já deixou 500 mil mortos ou feridos, entre soldados e civis, com 11 milhões de ucranianos deslocados. Em Kharkiv, segunda maior cidade do país, bombardeios russos mataram 17 pessoas na última semana, enquanto mísseis ucranianos atingiram depósitos em Rostov, na Rússia, mostrando que a guerra mantém intensidade em ambos os lados.
O Kremlin, por meio do porta-voz Dmitry Peskov, chamou a proposta de "manobra midiática" e reiterou que só aceita negociações com a rendição de Kiev e a incorporação das quatro regiões anexadas em 2022.
Analistas ouvidos pela CNN veem pouco espaço para acordo. "Putin quer vitória total, não pausa", diz Tatiana Stanovaya, do Carnegie Endowment. A OTAN, que prometeu mais US$ 40 bilhões em ajuda à Ucrânia em janeiro, também expressa ceticismo, enquanto civis em cidades como Mariupol, sob controle russo, relatam repressão e falta de alimentos, segundo a DW.
Contexto e Implicações Globais
Os dois conflitos, embora distintos, evidenciam a instabilidade global em 2025. No Paquistão, o sequestro expõe a fragilidade do governo Sharif, que enfrenta uma coalizão instável e críticas por priorizar acordos com o FMI — que exigiu cortes de US$ 2 bilhões em subsídios — em vez de segurança. A presença de reféns chineses pode forçar Pequim a intervir diplomaticamente, afetando o CPEC, avaliado em US$ 62 bilhões. Já na Ucrânia, a trégua proposta testa a disposição de Moscou e do Ocidente em buscar uma saída, mas o risco de escalada persiste, com a Polônia relatando violações de seu espaço aéreo por drones russos na última semana.
Ambos os casos têm impacto econômico indireto no Brasil. O Paquistão é um mercado crescente para carne brasileira, com exportações de US$ 300 milhões em 2024, enquanto a guerra na Ucrânia eleva os preços globais de trigo e fertilizantes, pressionando a inflação local.
Por ora, o mundo observa: no Baluchistão, cada hora aumenta o risco de tragédia; em Kiev, o silêncio de Moscou mantém a incerteza de uma guerra sem fim à vista.