O governo brasileiro está sob pressão para definir uma resposta às novas tarifas de 25% impostas pelos Estados Unidos sobre o aço importado, em vigor desde ontem, 12 de março.
A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump, impacta diretamente o Brasil, segundo maior fornecedor de aço para os EUA, e trás de volta o debate sobre o futuro do comércio internacional do país.
Autoridades avaliam retaliar com tarifas sobre produtos americanos ou buscar uma solução negociada via Organização Mundial do Comércio (OMC), conforme reportam o Estadão e a BBC News Brasil.
A decisão chega em um momento crítico, com o Brasil tentando manter o equilíbrio em suas relações econômicas globais.
Setor Siderúrgico em Xeque
O aço brasileiro é essencial para os EUA, representando 15% das importações americanas do produto. Em 2024, o país exportou 5,8 milhões de toneladas, gerando US$ 4,1 bilhões, com destaque para produtos semiacabados usados pela indústria local.As tarifas ameaçam reduzir esse fluxo em até 16%, segundo estimativas, afetando gigantes como CSN, Usiminas e Gerdau.
O Estadão aponta que o setor já enfrenta concorrência global, especialmente da China, e a perda do mercado americano pode forçar uma busca por novos destinos, como Ásia e Europa, onde custos logísticos e competição são desafios. "Redirecionar esse volume não é simples. A China domina o mercado mundial", explica Lia Valls, do FGV IBRE, à BBC News Brasil.
Retaliação ou Negociação?
O governo Lula estuda duas frentes.
A retaliação envolveria tarifas sobre importações americanas, que somaram US$ 40,7 bilhões em 2024, incluindo petróleo, gás e máquinas agrícolas. Com uma tarifa média de 11,3% contra 2,2% dos EUA, o Brasil tem margem para responder, possivelmente mirando o etanol americano. "Não queremos guerra comercial, mas equilíbrio", disse Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais.
Já o caminho da OMC (Organização Mundial de Comércio) questionaria a legalidade das tarifas, mas o processo é lento e o órgão está enfraquecido desde que os EUA paralisaram seu Órgão de Apelação em 2020. Em 2010, o Brasil venceu uma disputa similar sobre algodão, mas analistas alertam que o contexto atual é mais hostil.
Trump e o Protecionismo
As tarifas refletem a política "America First" de Trump, que em seu primeiro mandato já taxou aço e alumínio, mas negociou cotas com o Brasil.
Agora, ele endureceu: "25% sem exceções", declarou ao Congresso em fevereiro, mirando a recuperação da siderurgia americana.
A medida também atinge Canadá, México e UE, que já preparam retaliações bilionárias. Para o Brasil, o impacto é agravado pela relação comercial assimétrica: os EUA são 12% de suas exportações, enquanto a China, maior parceira, consome menos aço nacional. "Eles precisam de nós, mas podem nos substituir mais fácil do que nós a eles", diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, ao Estadão.
Esforços Diplomáticos e Alternativas
Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, tentou negociar cotas com os EUA na última semana, mas a Casa Branca mantém a linha dura.
No Congresso, Humberto Costa (PT-PE) defende diálogo, mas alerta para a necessidade de "resposta política" se Trump não ceder. Hamilton Mourão (Republicanos-RS) cita o sucesso de 2019 como exemplo.
Enquanto isso, estudos como o da Sputnik Brasil sugerem usar o aço excedente internamente, em obras de infraestrutura, ou acelerar acordos como o Mercosul-UE. "Precisamos diversificar mercados", afirma André Matos, da MA7 Negócios, ao Metrópoles.
Um Equilíbrio Delicado
O governo enfrenta um teste econômico e diplomático. Retaliar pode escalar tensões com um parceiro essencial; esperar a OMC pode custar tempo precioso.
Com a indústria pressionando por empregos e o comércio global em ebulição, o Brasil busca evitar uma crise sem abrir mão de sua posição. O aço, antes símbolo de força exportadora, agora expõe as fragilidades de um país entre o protecionismo americano e a incerteza internacional em 2025.