O brasileiro acordou hoje com uma notícia que pesa no bolso e na alma: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, disparou 1,31% em fevereiro, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior salto para o mês desde 2003, quando o índice marcou 1,57%. Comparado aos tímidos 0,16% de janeiro, o número acende um alerta vermelho: em apenas dois meses, a inflação acumulada em 2025 já chega a 1,47%. Nos últimos 12 meses, o índice bateu 5,06%, estourando o teto da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN), fixada em 4,5% – com centro em 3% e tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo. Para quem vive o dia a dia nas feiras, supermercados e contas do mês, os números traduzem uma realidade dura: tudo está mais caro.
O que está puxando a alta?
O IBGE apontou os vilões dessa escalada. O grupo Habitação subiu 4,44%, com as tarifas de energia elétrica liderando o aumento – reflexo de fatores sazonais e da redução de créditos nas contas de luz, que já vinham aliviando o orçamento. O setor de Educação também pesou, com alta de 4,70%, típica do início do ano letivo, quando mensalidades escolares sobem sem dó. Já Alimentação e Bebidas, essencial na mesa de qualquer família, subiu 0,70%, com destaque para a carne, que reflete os custos crescentes na produção. A inflação de serviços, outro termômetro importante, avançou 0,82% (ante 0,78% em janeiro), mostrando que os salários no setor privado e a leve estabilização do real não seguraram a pressão nos preços.
Um país sob pressão
Não é só uma questão de números: o salto do IPCA reflete um Brasil enfrentando desafios de todos os lados. O clima seco bagunçou a produção agrícola, a demanda interna segue forte e os custos de energia não dão trégua. O índice de difusão, que mede o alcance da alta entre os itens do IPCA, continua elevado, como em janeiro, provando que a inflação não é coisa de um ou dois produtos – ela está espalhada, infiltrada no cotidiano. Para o Banco Central (BC), a dor de cabeça aumenta: com a Selic já em patamar alto após ajustes em 2024, o Copom pode ter que apertar ainda mais os juros, numa tentativa de frear essa corrida dos preços.
O governo na corda bamba
Diante disso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva correu para anunciar medidas nos últimos dias, mirando sobretudo os alimentos, que machucam mais quem já vive no limite. A ideia é incentivar o consumo interno de itens básicos como arroz, feijão e carne, com programas sociais e crédito direcionado – mas há quem diga que isso pode jogar lenha na fogueira inflacionária. Outra frente é negociar com o setor produtivo, oferecendo subsídios temporários para combustíveis usados no transporte agrícola e tentando segurar os custos. Há ainda conversas sobre limitar exportações, como a da carne bovina, para garantir o abastecimento interno – uma proposta que já enfrenta resistência do agronegócio. Economistas torcem o nariz: sem controle fiscal, dizem, o remédio pode virar veneno.
No bolso, o impacto é real
A repercussão foi imediata. No X, o tom é de preocupação: “Como pagar as contas com tudo subindo assim?”, questiona um usuário. Há quem culpe o governo por “má gestão”, enquanto outros apontam o dedo para o clima e o câmbio. O Planalto tenta se equilibrar, destacando projeções positivas para o PIB em 2025 e prometendo aliviar os mais pobres. Mas, na prática, o brasileiro já sente o tranco. A energia mais cara (+4,44%) aperta as contas de casa, especialmente para quem já separa cada centavo. As mensalidades escolares (+4,70%) são um soco no orçamento de famílias da classe média e até dos mais pobres que lutam por uma escola particular acessível. A comida (+0,70%), com carne, arroz e feijão mais salgados, rouba o poder de compra de quem depende do salário – que, muitas vezes, não acompanha a inflação. Para trabalhadores, o dinheiro “encolhe”; para autônomos e pequenos empresários, a alta nos serviços (+0,82%) encarece aluguéis e transporte, um custo difícil de repassar sem perder clientes.