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Saúde Coqueluche

Ressurgimento da Coqueluche

no Brasil e no Mundo

23/07/2024 às 19h09 Atualizada em 23/07/2024 às 19h43
Por: Solange Lessa Fonte: Times New Roman
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Ressurgimento da Coqueluche

Ressurgimento da Coqueluche no Brasil e no Mundo

 

Dra. Solange Lessa Nunes, Biomed; MsC.; PhD; PPhD*.

Introdução

 

A coqueluche, também conhecida como pertussis, é uma doença infecciosa respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis. Apesar de ser uma doença controlada pela vacinação, nas últimas décadas, tem-se observado um ressurgimento dos casos em várias partes do mundo, incluindo o Brasil. Este artigo tem como objetivo discutir as possíveis razões para esse ressurgimento, bem como as implicações para a saúde pública e estratégias de controle.

 

Histórico e Epidemiologia

 

A coqueluche foi uma das principais causas de mortalidade infantil antes da introdução da vacina nos anos 1940. Com a implementação de programas de vacinação, os casos diminuíram drasticamente. No entanto, a partir dos anos 1980, observou-se um aumento gradual dos casos em diversos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

 

Situação no Mundo

 

Nos Estados Unidos, por exemplo, houve um pico significativo em 2012, com mais de 48.000 casos reportados, o maior número desde 1955 (Centers for Disease Control and Prevention, 2013). Na Europa, países como o Reino Unido e a Alemanha também relataram aumentos nos casos de coqueluche, apesar de altas taxas de cobertura vacinal (WHO, 2015).

 

Situação Atual no Brasil

 

No Brasil, o aumento dos casos de coqueluche tem sido notado desde a década de 2000. Em 2014, houve um surto significativo com mais de 8.000 casos confirmados, a maioria em crianças menores de um ano (Brasil, 2015). A cobertura vacinal no Brasil é geralmente alta, mas variações regionais e falhas na vigilância epidemiológica podem contribuir para surtos.

 

Possíveis Causas do Ressurgimento

1. Evolução da Bactéria

A Bordetella pertussis tem demonstrado uma capacidade de evolução, com surgimento de cepas que podem escapar da imunidade conferida pela vacina (Mooi, et al., 2014).

 

2. Diminuição da Imunidade

A imunidade conferida pela vacina acelular, atualmente utilizada, parece diminuir mais rapidamente do que a conferida pela vacina de células inteiras usada anteriormente (Witt, et al., 2012).

A vacina DTPa (difteria, tétano e pertussis acelular) é usada para proteger contra três doenças bacterianas graves: difteria, tétano e coqueluche (pertussis). Aqui está uma visão geral de cada componente: 1.   Difteria: infecção bacteriana que afeta principalmente as membranas mucosas da garganta e do nariz. Pode causar dor de garganta, febre, inchaço dos gânglios linfáticos e fraqueza. Em casos graves, pode levar a dificuldades respiratórias, insuficiência cardíaca ou morte. 2. Tétano: Causado por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium tetani, que pode entrar no corpo através de cortes ou feridas. A toxina causa rigidez muscular e espasmos dolorosos, geralmente começando nos músculos do maxilar (trismo). O tétano pode ser fatal se não tratado. 3. Coqueluche (pertussis): Uma infecção respiratória altamente contagiosa, caracterizada por crises severas de tosse que podem dificultar a respiração, especialmente em bebês e crianças pequenas. A coqueluche pode levar a complicações graves, como pneumonia, convulsões e danos cerebrais.

A vacina DTPa confere benefícios pela proteção combinada, conferindo imunidade contra três doenças em uma única injeção. Outro fator bastante importante é com relação a segurança: DTPa usa componentes acelulares da bactéria pertussis, o que reduz os efeitos colaterais em comparação com a vacina DTPw (componente celular). E o mais relevante se refere a prevenção de surtos, vacinar a população ajuda a prevenir surtos dessas doenças, protegendo também aqueles que não podem ser vacinados por motivos médicos (imunidade de grupo).

 

3. Cobertura Vacinal Incompleta

 

Em algumas regiões geográficas, incluindo nosso território, a cobertura vacinal pode não ser suficiente para manter a imunidade de grupo, permitindo a circulação da bactéria.Tal motivo, tem aumentado a preocupação da circulação e o comentado aumento de casos no mundo.

Com a aproximação das Olimpíadas de 2024, o Royal College of General Practioners (RCGP), em Londres, liberou no dia 7 de junho do corrente ano, diretrizes alertando para o aumento de coqueluche (pertussis) e sua possível circulação no evento olímpico sediado em Paris. Atribuindo o aumento de casos e eventual circulação à baixa adesão ao calendário vacinal bem como orientando a vigilância sanitária atenção aos principais sintomas, que são: tosse convulsa, que inclui ataques de tosse ou tosse incessante, nariz escorrendo e possível dificuldade em respirar. Outras futuras orientações estão referenciadas dentro de guias propositivos pelas vigilâncias locais e internacionais de saúde como o CDC e a Agencia de Segurança em Saúde do Reino Unido.

 

4. Diagnóstico e Notificação Melhorados

Melhorias nos métodos de diagnóstico e na vigilância epidemiológica podem resultar em maior detecção e notificação de casos (Cherry, 2012).

As principais implicações para a saúde pública com o ressurgimento da coqueluche apresentam desafios significativos para a saúde pública. A doença é particularmente perigosa para lactentes, que são mais suscetíveis a complicações graves e morte. Portanto, é crucial garantir a vacinação adequada, especialmente entre mulheres grávidas.

No Brasil a DTPa, consta do PNI (Programa Nacional de Imunização), desde 2014 oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo aplicada uma dose a partir da 20ª semana de gestação ou em puérperas até 45 dias caso a vacina não tenha sido administrada durante a gestação (Brasil, 2024), a importância da imunização durante a gestação serve para proteger os recém-nascidos por meio da imunização passiva (Healy, et al., 2011).

 

 

 

 

 

 

Estratégias de Controle

 

As principais estratégias de controle sugeridas seguem:

 

1.     Vacinação de Reforço: implementação de doses de reforço para adolescentes e adultos jovens para aumentar a imunidade da população.

2.     Vacinação de Grávidas: promoção da vacinação de mulheres grávidas para conferir imunidade aos recém-nascidos.

3.     Monitoramento e Vigilância: fortalecimento dos sistemas de vigilância para detectar e responder rapidamente aos surtos.

4.     Educação e Conscientização: campanhas educativas para aumentar a conscientização sobre a importância da vacinação.

 

Conclusão

 

O ressurgimento da coqueluche no Brasil e no mundo é uma preocupação significativa para a saúde pública. É necessário um esforço contínuo para manter e melhorar as estratégias de vacinação, vigilância epidemiológica e educação para controlar a disseminação da doença.

Espero que este artigo ajude a fornecer uma visão abrangente sobre o ressurgimento da coqueluche e sirva como uma base sólida para discussões futuras e ações de saúde pública.

 

Referências Bibliográficas

 

1.     Brasil (2024). Vacina adsorvida difteria, tétano e pertussis (acelular) (dTpa). Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/dtpa. Acesso em: julho/2024.

2.     Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Pertussis (Whooping Cough) Outbreaks, 2013. Disponível em: https://www.cdc.gov/pertussis/php/surveillance/index.html. Acesso em: julho/2024.

3.     World Health Organization. (2015). Pertussis. Disponível em: https://www.who.int/immunization/diseases/pertussis/en/Ministério da Saúde. (2015). Boletim Epidemiológico - Coqueluche. Acesso em: julho/2024.

4.     Mooi, F. R., Van Der Maas, N. A., & De Melker, H. E. (2014). Pertussis resurgence: waning immunity and pathogen adaptation - two sides of the same coin. Epidemiology and Infection, 142(4), 685-694.

5.     Witt, M. A., Katz, P. H., & Witt, D. J. (2012). Unexpectedly limited durability of immunity following acellular pertussis vaccination in preadolescents in a North American outbreak. Clinical Infectious Diseases, 54(12), 1730-1735.

6.     Cherry, J. D. (2012). Epidemic pertussis in 2012—the resurgence of a vaccine-preventable disease. New England Journal of Medicine, 367(9), 785-787.

7.     Healy, C. M., Rench, M. A., & Baker, C. J. (2011). Importance of timing of maternal combined tetanus, diphtheria, and acellular pertussis (Tdap) immunization and protection of young infants. Clinical Infectious Diseases, 53(9), 885-892.

8.     UK Health Security Agency. Whooping cough cases continue to rise. Disponível em: https://www.gov.uk/health-and-social-care/health-protection-infectious-diseases. Acesso em: maio/2024.

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Solange Lessa
Solange Lessa
Sobre Biomédica com especialidade clínica em Microbiologia, Saúde Pública e Sanitário, Epidemiologia Molecular e Bioquímica. Mestrado em Micro-Imunologia pela UNIFESP (2000). Doutoramento em Ciências ICBII-USP (2007) tema de pesquisa voltado para o diagnóstico microbiológico de áreas portuárias, pesquisa de bioindicadores de contaminação de origem fecal, total e de microrganismos patogênicos e bioinvasores da fauna marinha. Autora capítulo no livro eletrônico: “Água de Lastro e Seus Riscos Biológicos”. Especialização (MBA) junto ao Departamento de Avaliação de Impactos Ambientais da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) vinculada à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA) junto à Capacitação Gerencial de Apoio à Implantação de Novos Processos (2009); professora convidada da Faculdade Oswaldo Cruz (2010) para ministrar o módulo “Tópicos Analíticos em Biologia Molecular” dentro do curso de Pós Graduação em Biotecnologia de Alimentos, Biocombustíveis, Biofármacos e Meio Ambiente. Pós-doutora pelo IQ-USP em projetos de linha de pesquisa em Epidemiologia Molecular, Biologia molecular, Bioquímica voltada para o tema da quimioterapia para a doença de Chagas.
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