O Reino Unido anunciou hoje um pacote de medidas para frear a imigração, cedendo à pressão de grupos de direitistas que ganharam força nas urnas.
O primeiro-ministro Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, é o personagem central dessa guinada migratória. Em 12 de maio, Starmer prometeu “retomar o controle das fronteiras”, ecoando o slogan do Brexit, durante uma coletiva em Downing Street. A frase, segundo o Foreign Office, reflete a resposta à imigração líquida de 728 mil pessoas entre junho de 2023 e junho de 2024, após um pico de quase 1 milhão no ano anterior, conforme o Office for National Statistics (ONS). Starmer, que assumiu o poder em julho de 2024, enfrenta a sombra do Reform UK, partido populista liderado por Nigel Farage, que venceu eleições locais em 1º de maio e conquistou cadeiras parlamentares, segundo o Ministério do Interior britânico.
O plano, detalhado pela ministra do Interior, Yvette Cooper, inclui:
Corte em vistos de trabalho - Apenas profissionais com diploma superior ou em setores com escassez (como saúde e tecnologia) terão acesso. Em 2024, foram emitidos 369 mil vistos de trabalho, e a meta é reduzir 50 mil anualmente.
Controle de fronteiras - Reforço na fiscalização do Canal da Mancha, onde 36,8 mil migrantes chegaram em 2024, com 11 mil em 2025 até maio, e 84 mortes, incluindo 14 crianças.
Deportações em 2026 - Estrangeiros condenados por crimes, mesmo com penas inferiores a 12 meses (como furtos ou violência doméstica), serão deportados, facilitando a remoção de 24 mil pessoas desde julho de 2024, a maior taxa em oito anos.
Visto permanente mais difícil - O tempo mínimo para solicitar residência permanente passa de 5 para 10 anos, afetando 162 mil concessões de 2024.
Testes de inglês - Obrigatórios para todos os requerentes de visto e seus dependentes, revertendo regras flexibilizadas pelo ex-premiê Boris Johnson.
Num contexto político, a pressão do Reform UK, que capitaliza a frustração com a imigração desde o Brexit de 2020, forçou Starmer a endurecer o discurso. O partido de Farage, que elegeu Andrea Jenkyns como prefeita da Grande Lincolnshire, explora o sentimento de “perda de identidade”, segundo a CNN Brasil. Starmer, criticado por conservadores como Kemi Badenoch por supostamente menosprezar leis migratórias no passado, busca recuperar popularidade após cortes em benefícios para idosos e alta de impostos, conforme o Tesouro britânico. O governo trabalhista acusa os conservadores, que governaram até 2024, de “caos migratório”, com a imigração quadruplicando desde 2019.
O Reino Unido recebeu 1,2 milhão de imigrantes em 2024, com 925 mil de fora da UE, sendo 40% estudantes, segundo o ONS. Setores como o NHS (sistema de saúde), onde 16% dos 1,5 milhão de trabalhadores são estrangeiros, e a assistência social dependem de mão de obra migrante. A restrição de vistos pode agravar a escassez de profissionais, com 1 milhão de vagas abertas em 2024, conforme a Confederação da Indústria Britânica. Starmer exige que empresas invistam em treinamento local, mas críticos, como o Russell Group de universidades, alertam que menos estudantes internacionais — que pagam mensalidades altas — podem falir instituições.
A travessia do Canal da Mancha, alimentada por redes de tráfico, custa bilhões ao governo. Em 2024, 29,4 mil migrantes chegaram por essa rota, contra 45,7 mil em 2022, segundo a Associated Press. O plano de deportações para Ruanda, aprovado em 2024 mas contestado pela ONU por violar o princípio de “non-refoulement”, segue em judicialização, com custos estimados em £700 milhões, segundo o Ministério do Interior.