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TIKTOK NA CORDA BAMBA

AMAZON ENTRA NA BRIGA E O RELÓGIO ESTÁ CORRENDO

Maria Rosa M Pires
Por: Maria Rosa M Pires
03/04/2025 às 13h20
TIKTOK NA CORDA BAMBA

O futuro do aplicativo mais querido do mundo balança entre uma venda bilionária e um banimento nos EUA

 

O TikTok, fenômeno global com 170 milhões de usuários só nos Estados Unidos, está a dois passos de um precipício – ou de um novo dono. O prazo final para a ByteDance, empresa chinesa que controla o aplicativo, vender suas operações americanas é 5 de abril de 2025, conforme determinação do governo dos EUA. Se não houver acordo até sábado, o app enfrenta um banimento total no país, e o relógio está ‘ticking’. Hoje, 3 de abril, uma bomba caiu no noticiário. A Amazon entrou na disputa com uma oferta de última hora, acirrando a briga que já inclui nomes como o fundador do OnlyFans, Tim Stokely, segundo o Yahoo News. Mas com Donald Trump sinalizando que pode estender o prazo e a ByteDance resistindo, o destino do TikTok é um mistério que mexe com a cultura digital – e até com o bolso de brasileiros viciados no app.

 

Uma novela de idas e vindas

A saga do TikTok nos EUA não é nova. Desde 2020, o aplicativo está na mira de Washington por preocupações de segurança nacional, com temores de que dados de usuários possam acabar nas mãos do governo chinês – algo que a ByteDance nega veementemente. Em abril de 2024, o então presidente Joe Biden assinou a Lei de Proteção contra Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros, dando à ByteDance até 19 de janeiro de 2025 para vender o TikTok ou vê-lo banido. O app chegou a ficar fora do ar por 14 horas em janeiro, mas Trump, recém-empossado, assinou uma ordem executiva em 20 de janeiro adiando o prazo por 75 dias – agora, 5 de abril. “Temos muitos compradores em potencial”, disse Trump no domingo, a bordo do Air Force One, segundo a Reuters. “Quero ver o TikTok vivo.”

A entrada da Amazon na jogada, confirmada por fontes ao The New York Times, pegou o mercado de surpresa. A gigante do e-commerce enviou uma proposta ao vice-presidente J.D. Vance e ao secretário de Comércio, Howard Lutnick, na quarta-feira, 2 de abril. Detalhes do valor não foram divulgados, mas especula-se que o TikTok americano possa valer entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões. A Amazon, que já sonha há tempos com uma fatia maior do mercado de redes sociais, vê no app uma chance de turbinar vendas e capturar a atenção de jovens – um trunfo contra rivais como Meta e Netflix. Só que a ByteDance, segundo insiders, não está levando a oferta a sério, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade do lance.

 

Concorrência pesada e um deadline apertado

A Amazon não está sozinha na corrida. Tim Stokely, fundador do OnlyFans, juntou-se a uma fundação de criptomoedas para apresentar uma oferta tardia, reportou a Reuters. Outros pesos-pesados já foram citados: Oracle, Blackstone e até a Microsoft rondaram a mesa de negociações nos últimos meses. Trump, que se reuniu com assessores na quarta-feira para discutir o caso, parece inclinado a um acordo liderado por investidores americanos, mantendo a ByteDance com uma participação minoritária – algo na casa de 19,9%, segundo o The Information. Mas há um porém: qualquer venda precisa do aval do governo chinês, que já deu sinais de que não vai facilitar.

O prazo de 5 de abril não é escrito em pedra. Trump já acenou com a possibilidade de mais uma extensão, talvez para evitar o caos de banir um aplicativo que, só em 2024, gerou US$ 14,7 bilhões em receita global, conforme a Bloomberg. “Sem aprovação dos EUA, o TikTok não existe, mas com ela, vale trilhões”, disse o presidente em março. Nos bastidores, há quem diga que ele quer fechar um acordo antes do deadline pra marcar pontos com os jovens eleitores que o apoiaram – muitos deles, aliás, graças ao próprio TikTok.

 

E o Brasil com isso?

Por aqui, onde o app tem mais de 80 milhões de usuários, segundo a DataReportal, o impacto seria sentido na veia. O TikTok é febre entre criadores de conteúdo, marcas e até o comércio informal – em 2024, 45% das pequenas empresas brasileiras usaram a plataforma para vender, diz um estudo da Kantar. Um banimento nos EUA poderia esfriar o ritmo global do app, afetando atualizações e investimentos. “Se os EUA derrubarem o TikTok, o Brasil sente o baque em publicidade e tendências”, prevê Ana Clara Lopes, analista de redes sociais. Mas, se a Amazon levar, o jogo muda: imagine um TikTok turbinado com entregas em 24 horas e algoritmos ainda mais viciantes?!

 

O que vem pela frente

Com o deadline a dois dias de distância, o clima é de incerteza. A Amazon pode estar blefando para pressionar concorrentes, ou realmente quer engolir o TikTok e transformar a guerra pela atenção digital. Stokely e outros outsiders correm por fora, enquanto Trump joga xadrez político. A ByteDance, por sua vez, pode optar por resistir e enfrentar o banimento – uma aposta arriscada para um aplicativo que já vale mais de US$ 200 bilhões globalmente. 

Para 170 milhões de americanos e milhões de brasileiros, o TikTok é mais que um passatempo, é cultura, renda e conexão. Até sábado, o mundo vai saber se ele vira um troféu corporativo nas mãos da Amazon ou some do mapa americano. O relógio não para – e a próxima dança viral pode ser a última.

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