O resultado das eleições de 2024 mostra com cristalina clareza que o problema do Brasil não pode nem sonhar em ser resolvido pelo sistema político-partidário.
Tal presunção é um delírio furiosamente propagado pelo sistema, que busca limitar a esfera de consciência da sociedade. Se a única coisa que importa é o meio político, por que pensaríamos em outros caminhos?
Claro que o próprio caminho socialista que o Brasil tomou há tantas décadas já fortalece esse engodo, porque não se pode questionar o tremendo poder do Estado e de seus asseclas e servidores, entre eles os políticos, incluindo a esmagadora maioria dos ditos "de direita". Quem não lembra do "congresso mais conservador da história", capaz de fazer a quadrilha que ora comanda o país baixar a cabeça, impotente? Tal patuscada foi imediatamente esquecida e tal atitude é um indicador do nosso problema. Mas voltemos às eleições.
Para quem acompanha o meio político brasileiro algumas verdades são óbvias. Primeiro, a cosmovisão do indivíduo é muito mais importante que qualquer elemento de retórica recente. Isso deveria ser óbvio mas o povo nem sonha em levar isso em consideração. Os mais "estudiosos" abraçam o diagrama de Nolan ou as previsões e análises de jornalistas que falam de política com viés meramente econômico. E esses estão tão errados quanto o próprio Brasil. E, afinal, nem poderia ser diferente. Mas sigamos neste impopular caminho, onde sem dúvida deixo alguns leitores incomodados pelo caminho, já que não acenei com nenhum ufanismo nem a amada bala de prata. Em SP tivemos a eleição para vereador de Lucas Pavanato, o mais votado. O nome que a "direita" escolheu acima de todos os outros. Acima de Douglas Garcia, o político mais eficaz da história recente de São Paulo, sendo bem prudente. O que traz para a direita o jovem Pavanato? Ora, uma grande bola de ar quente e nada mais. Com um passado de dar vergonha a qualquer um, sem brincadeira, esse resultado mostra apenas o baixo nível do eleitor paulista, que é praticamente tão fútil quanto os demais compatriotas. Ele pode ter amadurecido e ter caminhado na direção do conservadorismo que o elegeu? É possível. Mas não há qualquer justificativa para que um eleitor sensato assuma esse risco. Numa sociedade decente, ele teria que pagar esse custo. Mas o brasileiro abraça a juventude como se fosse signo de brilhantismo, quando a realidade aponta o exato oposto. E, claro, tem a questão da "mitagem", vício que contaminou a tudo e a todos. Apareceu dando uma resposta humilhante para algum psolista, a galera já pretende eleger presidente do mundo. Simplesmente o negócio não é sério.
Rolando a deprimente página de resultados temos a Zoe Martinez, musa cubana do conservadorismo brasileiro, a quem se pode aplicar o mesmo questionamento dirigido ao Pavanato. Passamos então por Janaína Paschoal, com mais de 48 mil votos, e chegamos ao incrível nome de Amanda Vettorazzo, com 40 mil. Sim, MBL se maquiando por todos os lados e o brasileiro, sempre disposto ao erro, se deixando enganar. Tenho que esperar o resultado das distribuições do nosso fétido sistema para ver quem entrou ou não mas a coisa está muito feia para os paulistas. Infelizmente no meu RJ o negócio não está melhor.
Aqui o Paes (preposto do molusco) se elegeu em primeiro turno, sob os aplausos da deprimente elite carioca, seguramente das piores do país. Pela primeira vez em muitos anos temos um candidato realmente bom, o Delegado Ramagem, mas não deu para segurar a força da podridão do nosso sistema, seja nas ruas ou nos circuitos eletrônicos. Entre os vereadores tivemos Carlos Bolsonaro como o mais votado, o que é bom mas não representa nenhuma mudança ou efeito prático. Seguimos na mesma direção, que é para baixo.
Até agora temos poucas notas de esperança e alegria. Uma é o resultado de Curitiba. Lá a ótima, sincera, honesta e culta Cristina Graeml, empolgou o povo a ponto de ir para o segundo turno. Outra é que Bruno Engler foi para o segundo turno em Belo Horizonte. Temos ainda Allan Lyra, vereador em Niterói, entre outros. Boas notícias, que tenham sucesso contra um sistema tão desonesto quanto o nosso.
O caminho de melhoria do nosso pais definitivamente não passa pelas urnas. Passa, essencialmente, pelos bairros e associações, pelos canais de mídia dispostos a não abrir mão de qualidade por audiência e pelos difusores de cultura de qualidade. Estes são poucos, pequenos e sem recursos e isso mostra que sonhar com uma saída rápida para o país é um delírio que, a esta altura, em plena ditadura, beira a perversidade.
O Brasil, se tiver sorte, amargará trinta anos de mais socialização e declínio. Sim, aqui o fundo do poço tem alçapão e esse leva para uma fossa muito pior que o poço.
Claro, o resultado de São Paulo aponta a realidade, para quem quiser ver. O candidato anti-sistema, goste você dele ou não, foi convenientemente defenestrado por menos de 1%. Tudo como sempre na Bananalândia.
Caso me ache pessimista, pergunte a qualquer um dos eleitos "didireita" se eles planejam fazer algo efetivo em relação à única arena onde podemos depositar qualquer esperança, a cultural. Duvido que recebam algo mais que generalidades.
É isso aí, pessoal.
Mas vamos focar em 2026 que então teremos a solução dos nossos problemas, yay!
Fiquem com Deus, cuidem dos seus e leiam o mais que puderem. Abraços a todos.
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