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A FORÇA DAS NARRATIVAS: DAS FOGUEIRAS PRIMITIVAS AOS ALGORÍTMOS MODERNOS

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Rodrigo Schirmer Magalhães
Por: Rodrigo Schirmer Magalhães
23/06/2025 às 14h34 Atualizada em 23/06/2025 às 14h44
A FORÇA DAS NARRATIVAS: DAS FOGUEIRAS PRIMITIVAS AOS ALGORÍTMOS MODERNOS

“O que une as pessoas? Exércitos? Ouro? Bandeiras? Histórias… não há nada mais poderoso no mundo do que uma boa história!” – Tyrion Lannister, Game of Thrones.

 

Desde os primórdios da humanidade, as histórias têm sido a força motriz que une comunidades, transmite valores e constrói realidades compartilhadas. A frase de Tyrion Lannister, carregada de sabedoria fictícia, reflete uma verdade fundamental: a narrativa é o fio condutor da experiência humana.

O Começo das Histórias: Mitologia e Origem

Quando o Homo sapiens começou a articular sons, os primeiros contos emergiram ao redor das fogueiras primitivas. Esses relatos não eram apenas formas de entretenimento; eram ferramentas para decifrar o desconhecido. Os mitos explicavam fenômenos naturais, como trovões e eclipses, personificando-os em divindades e monstros. Histórias como as do deus egípcio Rá, que carregava o sol no céu, ou do Titã Prometeu, que trouxe o fogo aos humanos, deram sentido à realidade.

Essas narrativas moldaram identidades tribais, perpetuaram crenças e estabeleceram a base para a cultura. Por meio delas, o ser humano encontrou uma maneira de transmitir conhecimento e perpetuar tradições, mesmo antes da invenção da escrita.

As Narrativas que Moldaram Eras

À medida que a civilização avançava, as histórias se tornaram mais complexas. No mundo antigo, religiões como o Cristianismo, o Islamismo e o Hinduísmo foram construídas sobre narrativas profundamente influentes, que não apenas explicavam a origem da vida, mas também determinavam códigos morais. Os textos sagrados como a Bíblia, o Alcorão e os Vedas são essencialmente coleções de histórias que definem o certo e o errado.

Histórias também estiveram no cerne de grandes transformações sociais e políticas. Revoluções como a Francesa e a Americana foram impulsionadas por narrativas de liberdade, igualdade e autodeterminação. Essas histórias, capazes de inspirar milhões, mostraram que uma boa narrativa pode ser libertadora, derrubando antigas ordens e inaugurando novos paradigmas. Por outro lado, as mesmas histórias que libertam também podem sustentar estruturas de poder e dominação, perpetuando desigualdades.

A Idade Média foi dominada pela narrativa do heroísmo cavaleiresco e da cruzada religiosa. Vilões e heróis eram criados tanto em lendas quanto nas batalhas reais. Durante o Renascimento, as histórias ganharam nova força na arte, teatro e literatura, imortalizando figuras como Romeu e Julieta e lançando questionamentos sobre a condição humana.

Na modernidade, guerras foram travadas e ideologias construídas sob o poder das narrativas. Do Manifesto Comunista à Declaração de Independência dos EUA, ideias poderosas foram transmitidas por meio de histórias convincentes.

Narrativas e o Inconsciente Coletivo

Carl Jung, o pai da psicologia analítica, identificou as histórias como componentes essenciais do inconsciente coletivo. Arquétipos como o herói, o sábio e o vilão existem em todas as culturas, transcendendo fronteiras e eras. Esses padrões narrativos nos conectam em um nível profundo, moldando nossa compreensão da humanidade e de nós mesmos.

O Presente: Histórias Algoritmicamente Controladas

Hoje, vivemos em um mundo saturado de informação, onde as histórias não apenas nos encontram – elas são criadas para nós. Redes sociais e algoritmos selecionam narrativas que confirmam nossas crenças, reforçam preconceitos e polarizam sociedades.

Embora a liberdade de informação seja um ideal contemporâneo, ela é uma ilusão parcial. As bolhas digitais ecoam narrativas que moldam o pensamento coletivo, muitas vezes manipulando emoções e direcionando comportamentos. Estamos vivendo a era das “histórias fabricadas”, onde a verdade se dilui em narrativas cuidadosamente construídas para engajar ou dividir.

Se no passado as histórias explicavam trovões e justificavam revoluções, hoje elas moldam ideologias, constroem polarizações artificiais e servem aos interesses de quem controla os algoritmos. Narrativas são, ainda, os principais elementos tanto para a libertação quanto para o controle – um recurso universal que continua a ser usado em guerras culturais e disputas de poder.

A força das histórias permanece inabalável, mas o poder de controlá-las mudou de mãos. No mundo moderno, entender as narrativas que nos cercam é mais importante do que nunca. Tyrion Lannister estava certo: nada é mais poderoso do que uma boa história. Porém, no cenário atual, é essencial discernir quem está contando essas histórias e com qual propósito. Afinal, as narrativas que escolhemos acreditar não apenas definem quem somos, mas também o mundo que criamos.

Rodrigo Schirmer Magalhães 
Cientista Político

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Rodrigo Schirmer Magalhães - Batalha Cultural
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Cientista político pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi) e um dos fundadores do canal GUERRA da INFORMAÇĀO.
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