O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira, 9 de junho de 2025, como réu na ação penal que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado após sua derrota nas eleições de 2022. O interrogatório, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, marcou o início de uma semana crucial para o julgamento, que ouve outros sete réus, incluindo ex-ministros e aliados próximos do ex-governo. Em sua fala, Bolsonaro negou qualquer envolvimento em planos para subverter a ordem democrática, classificou as acusações como “perseguição política” e questionou a credibilidade das provas apresentadas, especialmente a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
O depoimento de Bolsonaro, transmitido ao vivo pela TV Justiça e pelo canal do STF no YouTube, ocorreu na sala de julgamentos da Primeira Turma do Supremo, adaptada para receber os réus como um tribunal do júri. Mauro Cid foi o primeiro a depor, seguido por outros acusados em ordem alfabética, com Bolsonaro sendo o sexto a falar. O ex-presidente optou por responder às perguntas, exercendo seu direito de defesa, embora a Constituição permita aos réus permanecerem em silêncio para evitar autoincriminação.
Durante o interrogatório, Bolsonaro destacou que “jamais” discutiu ou planejou uma ruptura institucional. Ele afirmou que, após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), estava “resignado” e focado em deixar o governo de forma ordeira. “Não havia tropas, armas ou liderança para um golpe. Isso é uma narrativa sem fundamento”, declarou, ecoando argumentos usados em pronunciamentos anteriores. O ex-presidente também minimizou a relevância de uma minuta golpista citada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), chamando-a de “bravata” sem qualquer intenção de execução.
A delação de Mauro Cid, que detalhou supostas tratativas para um golpe, foi um dos alvos centrais da defesa de Bolsonaro. O ex-presidente afirmou desconhecer a existência de um “gabinete de crise” pós-eleições, mencionado por Cid, e questionou a confiabilidade do delator, cuja colaboração premiada tem sido contestada por inconsistências. “Não posso ser condenado por palavras de alguém que busca benefícios judiciais”, disse Bolsonaro, reforçando a tese de que a investigação é movida por interesses políticos.
A PGR, representada pelo procurador-geral Paulo Gonet, sustenta que Bolsonaro liderou uma organização criminosa com o objetivo de manter-se no poder “a qualquer custo”. Segundo a denúncia, o plano incluía monitorar autoridades, como o próprio Moraes, e chegou a prever medidas extremas, como um decreto para implementar um estado de exceção. No entanto, a acusação admite que o plano não avançou por falta de apoio do comando do Exército. Conservadores, incluindo colunistas da Revista Oeste, apontam que a ausência de ações concretas enfraquece a narrativa de golpe, sugerindo que o STF estaria ampliando interpretações para criminalizar o ex-presidente.
O depoimento de Bolsonaro ocorre em um contexto de crescente tensão política. Na semana passada, o ex-presidente já havia prestado esclarecimentos à Polícia Federal sobre a atuação de seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nos Estados Unidos, onde o deputado licenciado busca apoio contra o STF. Bolsonaro negou qualquer relação com a fuga da deputada Carla Zambelli (PL-SP), também investigada, e reiterou que suas ações sempre foram pela “democracia”.
A sociedade brasileira acompanha o julgamento com atenção, dividida entre os que veem Bolsonaro como vítima de perseguição e os que defendem a punição por supostas ameaças à democracia. O processo, que pode resultar em até 40 anos de prisão se Bolsonaro for condenado, é um marco na história política do país. Legalistas e apoiadores do ex-presidente, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que depôs em sua defesa no último dia 30 de maio, afirmam que as acusações carecem de provas sólidas. “Encontrei um presidente triste, resignado, jamais alguém planejando um golpe”, declarou Tarcísio.
As sessões de interrogatórios seguem até sexta-feira, 13 de junho, com depoimentos de réus como os ex-ministros Braga Netto, Augusto Heleno e Anderson Torres. Após essa fase, Moraes abrirá prazo para alegações finais antes do julgamento decisivo, esperado ainda em 2025. O desfecho do caso será determinante não apenas para Bolsonaro, mas para o equilíbrio de forças políticas às vésperas das eleições de 2026. O Brasil, que clama por justiça imparcial, espera que o STF aja com rigor, mas sem ceder a pressões ideológicas.